'homem com homem dá lobisomem, mulher com mulher dá jacaré...' Apesar do termo homofobia ser ainda pouquíssimo conhecido pelos brasileiros, diferentemente do que ocorre há décadas nos Estados Unidos, onde é utilizado coloquialmente até em filmes de televisão, a prática da homofobia perpassa todos os níveis de nossa cultura, da lingüística popular aos meios de comunicação e instituições sociais. No Brasil a forma mais comum de ofender um homem é chamá-lo de homossexual - popularmente rotulado de veado.
(ditado popular)
Nas ruas, escolas e locais de trabalho, quando se quer agredir verbalmente um jovem ou adulto, o primeiro insulto que ocorre à lembrança dos brasileiros é veado. Apesar de serem empregados na língua portuguesa mais de sessenta sinônimos populares para designar pejorativamente o homossexual masculino, e uma vintena de étimos para a homossexual feminina, o termo veado tornou-se tão corrente e estigmatizante que o animal veado passou a sofrer a mesma maldição que pesa contra os homossexuais.
Anos atrás a imprensa noticiou que nos zoológicos de Salvador (Bahia) e Cascavel (Paraná), alguns veados ("cervos do pantanal") foram mortos a pedradas e pauladas por visitantes desconhecidos, que transferiram para os indefesos animais o mesmo ódio mortal da população contra os gays.
O número '24', tradicionalmente identificado no popular "jogo do bicho" ao animal veado, tornou-se tão maldito e indesejado no Brasil que em muitas escolas e agremiações diversas omite-se o '24' nas listas de identificação dos presentes a fim de poupar o "infeliz azarado" de ser vítima de toda sorte de constrangimentos físicos e morais geralmente reservados aos veados. Reflexo dessa mesma intolerância foi a decisão do Diretor do Departamento de Trânsito de São Paulo, ao proibir a impressão de chapas de veículos com três letras que viessem a formar a palavra 'GAY', sob alegação de 'evitar constrangimentos aos motoristas'.
Diversos são os ditados populares, sobretudo no Nordeste - a região brasileira mais subdesenvolvida e tradicionalmente hiper-machista - que tipificam esta intolerância anti-homossexual. É comum ouvir pais e mães proclamarem sem pejo: 'Prefiro ter um filho ladrão, ou morto, do que veado!', ou então: 'Prefiro uma filha puta do que sapatão!'.
Há um caso documentado e ocorrido na Bahia em 1987, de um pai que matou seu filho gay: o Coronel do Exército Antônio Pomponet Macedo ao indagar ao seu filho Augusto César Macedo, 29 anos, se era mesmo homossexual, ao receber resposta afirmativa, perante a família reunida, descarregou o revolver no peito de seu próprio filho.
Uma demonstração do recrudescimento da homofobia em nossa cultura popular contemporânea ocorreu em Salvador nos anos noventa, quando o mais famoso artesão de bonecos destinados a malhação do Judas na Semana Santa, resolveu inovar, confeccionando grande número de bonecos identificados como 'Gays do Tororó' e 'Sapatonas da Liberdade' - figuras que foram espancadas pela multidão e queimadas em fogueiras públicas exatamente como ocorria nos Autos de Fé da Inquisição. Neste deplorável episódio, o jornal 'A Tarde' aplaudiu a malhação dos homossexuais. Principal jornal do Norte e Nordeste do Brasil, 'A Tarde', é campeão da homofobia em língua portuguesa.
a homossexualidade no decorrer da histór
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