‘esta areia nunca foi tão úmida, nem as estrelas tão distantes. você parece confiante em seus passos que já andaram em segredo. eu, me atrapalhando com a lanterna e a garrafa de whiskie, me vejo bem assim como sou: torta, ansiosa e longe, muito longe do real. você começa a tirar o vestido séculos antes de mim, rindo, sempre rindo, você que me fez beber mais goles do que queria, você morena que atrai para si todos os olhares. apóio a lanterna e sua voz: "apagada é mais bonito". quanto mais difusa a luz, melhor meus olhos se acostumam à escuridão. agora sim posso ver o mar com suas ondas e a aspereza da areia deixando-se molhar. quero mergulhar esta minha tontura no sal da noite, afundar na água gelada todos os presságios, lavar os distúrbios do meu caos e sentir-me enfim leve. longe, para os lados da vila, faróis de carros cruzam o breu e eu imagino: vão bater, vão sumir. você alisa seu corpo redondo inclinado para o lado, rosto fixo no mar. eu já estou nua e meu respirar é susto. para disfarçar o embaraço, começo a andar pela orla e você, que sorte, me acompanha sem palavras. cadenciamos nossos passos numa balbúrdia silenciosa. cem metros, trezentos metros, nunca alcançaremos o fim.'
(não sei quem é a autora)
a homossexualidade no decorrer da histór
divulgando organizações e ongs