Rosa Montero é uma conceituada jornalista espanhola do jornal 'El País', com formação em jornalismo e psicologia. Por sua paixão pela Idade Média, escreveu uma fábula medieval, ou um romance histórico, ou melhor, um conto sobre as coisas essenciais da vida. No extremo limite entre o real e o imaginário, nada foge da realidade. Elementos como a consciência da condição de mulher e como elas sentem o mundo estão lá o tempo todo.
‘História do rei transparente’ conta a saga de 25 anos de vida de Leola, a heroína da trama, que também é narradora, que após sair de seu universo ínfimo de serva, viaja pela França disfarçada de homem por trás de uma armadura. A guerra a havia separado de Jacques, com quem iria se casar e ela torna-se o cavaleiro Leo. Inicialmente, disposta a reencontrá-lo a qualquer custo, no final, depois de uma longa jornada, quando o revê, constata que nunca chegou a estar a sua procura, porque, não queria achá-lo. Vive errante, acompanhada de Nyvene, sua ajudante e uma espécie de bruxa, com quem divide medos, lutas, vitórias e derrotas. Após enfrentar muitas batalhas, Leola acaba sangrando entre as pernas, mas não o sangue da guerra, e sim o da menstruação. É o feminino em conflito contra o masculino.
De suas pesquisas sobre a vida na Europa, a escritora exalta no livro as grandes transformações entre os séculos 12 e 13 que deram origem ao Renascimento e ao pensamento humanista reprimidos pelo poder da Igreja Católica, e transformados em frutos apodrecidos, através da força bárbara das Cruzadas e do fogo da Santa Inquisição. Lá também estão: o nascimento das cidades e da burguesia, a valorização da escrita e do papel da mulher na sociedade.
Leola com características mitológicas e que tem o segredo do rei a decifrar, em um aprendizado e transformações constantes, enfrenta obstáculos com inimigos maiores e mais fortes, aprende a ler e a escrever e faz anotações para um livro sobre as palavras e seus significados, enquanto Nyvene encarna a bruxa tão temida pela Inquisição, a sabedoria mágica das mulheres.
Os capítulos são curtos e com muito suspense, prazeroso e leve e com personagens fantásticos como Guy, o gigante ingênuo que atemoriza pelo tamanho, mas se comporta como uma criança, o ferreiro Léon, que padece do ‘grande mal’, como na época se chamava a epilepsia, a cega que melhor vê, o dragão que tudo pode; e também com personagens reais como o papa Gregório IX, que criou a Santa Inquisição em 1231.
‘História do rei transparente’ é temperado pela valorização do papel feminino; direitos, deveres e restrições são constantes na vida das personagens que se vestem de homens para sobreviver, mas o fazem sonhando com o reino de Avalon, onde as mulheres são importantes e vivem felizes. A narrativa é tão intensa que nas aventuras das personagens principais, sentimos os sabores e os aromas bons e os desagradáveis da época que fez de nós o que somos hoje.
a homossexualidade no decorrer da histór
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