Já não me lembro de quando conheci a Maria. Aceitamo-nos mutuamente e não sei se, na verdade, alguma vez fomos amigas. Dela nunca se sabia nada ao certo. A vida atingia-a em golfadas, em ondas de tristeza ou alegria. Detestava sentir as meias tintas, as esperas, os tempos mortos ou agonizantes e, talvez por isso, forçava situações limite. Só estava bem ou (não sei de quem é o texto, se alguém souber me avise)extremamente mal, o que era quase o mesmo, quando experimentava sentimentos intensos. Positivos ou negativos. Quem a conhecia à superfície, julgava-a serena e segura. Não descortinava a inquietação no fundo do olhar. Outros achavam-na conflituosa, intolerante para com a falta de inteligência, irritante naquele jeito de querer ter sempre a última palavra numa discussão. Não sabiam que tudo isso era uma forma de sacudir o tédio que por vezes se apoderava dela e de se sentir viva.
Poucos a conheciam realmente. Porque não se deixava adivinhar, fechava-se naquela insatisfação perante a vida. E, mesmo entre esses, ninguém entendia que se fartasse tão rapidamente de tudo o que desejava e, eventualmente, conseguia. Na verdade, só se interessava pelo que não conseguia possuir. Sempre na procura de qualquer desafio que a fizesse viver. Não era feliz nem infeliz, ou podia ser as duas coisas num intervalo de tempo mínimo. Tinha alguns poucos afetos permanentes. As suas referências. Essas, tentava mantê-las a todo o custo. Até quase à anulação de si própria. Um dia perdeu alguém que julgava eterna na sua vida e deixou que a tristeza invadisse todos os cantos da alma. Não quis mais desafios, trancou portas e janelas e fez desaparecer tudo o que a distinguia de quem quer que fosse. Lentamente, diluiu-se numa massa informe de gente 'normal' e cinzenta. Quando se perguntava por ela, ninguém sabia responder. Maria tinha-se tornado invisível.
a homossexualidade no decorrer da histór
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